Um bom pai e uma boa mãe dão muito amor e suporte aos seus filhos. Mas imagine que os dois têm um grande sonho: eles desejam que o seu filho seja bem sucedido e curse medicina na faculdade. Na melhor das intenções, os pais projetam na criança essa vontade, que acaba crescendo e se tornando um adulto frustrado.

Essa é uma história bem conhecida. Poucos discordam do impacto negativo que as ambições dos pais podem ter nos filhos. Mas você já percebeu que muitos empreendedores aplicam a mesma lógica às suas organizações?

Os fundadores, assim como os pais, tem um papel importante na formação do novo ser (social). Eles colocam a sua energia, os seus valores e uma visão de mundo que se cristaliza. Mas como uma criança, uma organização é uma entidade por si só. E portanto ela precisa de espaço para encontrar e expressar o seu propósito. Brian Robertson, em seu livro Holacracia: o novo sistema de gestão que propõe o fim da hierarquia diz:

[..] quando abrimos mão da ideia de que “eu quero que minha empresa faça X”, podemos encontrar o impulso criativo da própria organização – o potencial ou a capacidade criativa mais profunda que ela poderá expressar de modo sustentável no mundo […]

Assim como pais, nós projetamos os nossos sonhos, desejos e ambições nas nossas organizações. E isso as transforma em um bonsai. Uma planta que cresce em função da vontade do dono e que possui limitações impostas. Nós, na esperança de vermos uma bela árvore, cuidamos e cultivamos muito. No entanto, isso nos impede de vislumbrar o potencial que essa planta poderia atingir. Não temos a oportunidade de observarmos ela expressando a sua real natureza.

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Eu acredito que as organizações devem existir além das pessoas que as compõe. Além dos fundadores, dos acionistas e dos funcionários. As pessoas vem e vão, mas a organização continua. E ela precisa de espaço para se libertar.

Obviamente, uma organização que busca apenas o lucro vai existir em função dos seus acionistas. Afinal, por que isso importaria para as demais pessoas e para o mundo? Observo que essas tendem a ser bonsais.

Por outro lado, aquelas que buscam gerar uma contribuição querem ser árvores livres. Muitas não conseguem, pois os fundadores continuam projetando os seus sonhos e as tratando como sua propriedade.

A Target Teal

Em Maio de 2016, nasceu a Target Teal, uma organização que busca ajudar outras empresas a adotarem novas tecnologias sociais que as permitam seguir o seu propósito.

Alguns meses depois, tivemos a ideia de torná-la uma organização-rede. Isso significa que a TT não tem donos, acionistas ou sócios. Ela existe além de nós. Eu não posso vendê-la, porque ela não é minha. O nosso contrato impede que alguém a detenha. Se eu decidir sair, a organização continua existindo, e eu não levo nada junto comigo além das experiências.

Teve que rolar um desapego. Como assim, ela não é minha? Eu coloquei energia, investi tempo e dinheiro. Mas eu tenho certeza que a Target Teal vai conseguir expressar a sua natureza de uma forma que eu nunca imaginei. Ela é uma árvore livre.


Existem bonsais e árvores livres belíssimas. Faça uma escolha consciente.