Um movimento de novas empresas está surgindo. São as organizações evolutivas, responsivas, empresas livres ou orgânicas. Independentemente de como você quer chamá-las, elas compartilham algumas características em comum, como a transparência, autonomia, ausência de chefes ou hierarquia, integralidade e autogestão. É para esse último aspecto citado que olharemos hoje.

Menos hierarquia e chefes: mais estrutura e transparência

Entendemos autogestão como a distribuição das responsabilidades de um gestor tradicional entre várias pessoas, papéis e processos. As formas de você estruturar isso são infinitas. Em Reinventing Organizations, Frederic Laloux descreve 3 tipos diferentes de modelos que ele observou em sua pesquisa.

Quando nós da Target Teal desafiamos a cadeia de comando, a hierarquia e o chefe, sempre nos deparamos com a seguinte constatação: A minha empresa não tem maturidade para isso.

Será? Vamos conversar sobre isso.

Maturidade

As pessoas estão prontas para a autogestão? Não. Eu também não estou. Somos condicionados pela nossa sociedade e cultura a transferir boa parte das nossas responsabilidades para outros agentes. Transferimos ao governo a responsabilidade de cuidar da segurança e da saúde. Transferimos aos professores e pais a responsabilidade de nos ensinar e educar. Transferimos ao chefe a responsabilidade de lidar com conflitos e gerir o nosso próprio trabalho.

Eu não estou pronto para autogestão. Mas estou ficando mais preparado, pois pratico toda semana nas organizações que ajudo e dentro da Target Teal. Agora, se na sua organização isso nunca aconteceu, como você pode estar pronto?

Em geral, achamos que é necessário uma grande desenvoltura intelectual para lidar com o fato de que “ninguém vai passar tarefas para você”. O que venho observado – e vamos deixar claro que isso é evidência empírica e anedotal – é que você não precisa de nada além de:

  1. uma estrutura organizacional que habilite isso, e;
  2. tempo (e prática) suficiente para o desenvolvimento das pessoas.

Sobre uma estrutura organizacional habilitadora

Praticar autogestão não significa simplesmente “empoderar os funcionários”. Mecanismos que criam pressão social – prestação de contas ao grupo – e responsabilizam as pessoas pelo seu próprio impacto são necessários. E acredite, boa parte das organizações que acham que estão empoderando os funcionários, não possuem estruturas efetivas para isso.

Quem diz “as pessoas não tem maturidade para isso” subestima muito o poder do contexto. Quando você está em uma organização (em um contexto) que confia nas pessoas, que dá autonomia, que valoriza o aprendizado e que encoraja a experimentação, a vitimização dá espaço ao protagonismo.

Se você quiser conhecer um caso de implantação de autogestão em uma empresa brasileira (com histórias reais), veja esse post.

Sobre tempo suficiente

Durante o trabalho que fazemos na Target Teal de construção dessas “estruturas habilitadoras”, nos deparamos com a pergunta.

Quando a autogestão vai dar resultado?

Alguns times apresentam ganhos rápidos de velocidade e aprendizado. Outros demoram mais. De qualquer forma, um processo de implantação de autogestão é um longo caminho. Lembra do nosso condicionamento social e cultural? Não é fácil se livrar dele.

Como falamos no post “A desculpa do CEO”, as nossas crenças moldam os nossos comportamentos e criam a nossa realidade. Se você cultivar um ambiente baseado na transparência e na responsabilidade, as pessoas se comportarão de forma transparente e responsável.

Quer impulsionar a mudança na sua organização com a Target Teal? Clique aqui para marcarmos um café. É por nossa conta ;)

Todos vão se adaptar?

Não. Algumas pessoas não vão conseguir trabalhar de forma autogerida, mesmo com mecanismos de transparência e pressão social. Mas ao contrário da gestão tradicional, onde um indivíduo com problemas pode ficar “escondido”, as estruturas de autogestão colocam essas dificuldades em evidência.

A sentença “as pessoas não têm maturidade para isso” é um mito. Ao proferirmos ela, subestimamos fortemente o poder do contexto. Se você configurar o ambiente corretamente, novos comportamentos irão aparecer.

Gestores que proferem “o meu time não tem maturidade para isso” fortalecem o status quo. Líderes que criam estruturas de autogestão impulsionam a mudança. Qual dos dois você quer ser?


A Target Teal ajuda outras organizações a adotarem práticas evolutivas e a se reinventarem. Assine a nossa newsletter e receba novidades sobre o futuro do trabalho.

Conteúdos sobre Autogestão & O2

Inscreva-se abaixo para receber mais conteúdos sobre autogestão & O2 por email.

Sobre o(a) autor(a): Davi Gabriel Zimmer da Silva

Davi é designer organizacional e facilitador na Target Teal, especializado em melhorar interações entre times e indivíduos no ambiente corporativo. É pioneiro na prática de Holacracia no Brasil e co-autor da Organização Orgânica, uma abordagem brasileira para autogestão. Davi é formado em Sistemas de Informação pela UNISINOS e pós-graduado em Psicologia Positiva pela PUCRS. É amante dos temas desenvolvimento humano e de organizações, produtividade, futuro do trabalho e cultura organizacional.

5 Comments

  1. […] palavrinha final sobre o mito da maturidade (clique aqui para ver o que já falamos sobre […]

  2. […] A autogestão é o melhor, senão o único caminho para uma equipe amadurecer e se tornar pronta para a autogestão. Continue tratando sua equipe como crianças ou adolescentes irresponsáveis que a tão falada maturidade nunca irá se efetivar. Leia esse post que explica com mais detalhes nossa posição sobre o assunto. […]

  3. […] Ao perceber dessa forma, me vejo sem poder fazer qualquer coisa a respeito. Isso não é falta de maturidade. Não é preguiça de pensar. Não é comodismo. Ninguém acorda pela manhã e pensa “vou me […]

  4. […] A autogestão é o melhor, senão o único caminho para uma equipe amadurecer e se tornar pronta para a autogestão. Continue tratando sua equipe como crianças ou adolescentes irresponsáveis que a tão falada maturidade nunca irá se efetivar. Leia esse post que explica com mais detalhes nossa posição sobre o assunto. […]

  5. […] “Falta maturidade nas pessoas daqui.”  […]

Deixar um comentário