Acredito que a maioria das pessoas tem um chefe dentro delas. Não estou me excluindo desse grupo. Isso se explica pela maneira como somos criados. Nossa cultura está repleta deles e aprendemos muito cedo sobre a relação chefe-subordinado. Lembro de uma cena de minha infância. Um amigo, então com 9 anos, tinha acabado de receber sua primeira oportunidade de ser chefe. Ele tinha sido escolhido para ser o líder de uma matilha de lobinhos. Não pensou duas vezes e resolveu provar aquele poder instituído. Pediu para um coleguinha (com 7 anos!) para levantar uma pedra de uns 2kg acima de sua cabeça. A ordem foi seguida e um sorriso de satisfação maléfica surgiu no rosto de meu amigo. A brincadeira parou por aí e a próxima ordem foi de colocar a pedra de volta ao chão. Temos um chefe dentro de nós, mas nem todos somos psicopatas. Mesmo nos controlando, é fácil lembrar que o poder corrompe. Basta olhar para as manchetes dos jornais do mundo inteiro e ver o que há de comum entre elas. Neste momento, você pode estar pensando: Não quero ser um chefe todo poderoso, quero ser um gestor! Um líder! Um déspota esclarecido, um ditador do bem. Ok, vamos olhar para quais características, encontradas nos livros mais vendidos nas livrarias, são esperadas de um “gestor”:
  • Líder inspirador
  • Facilitador de processos
  • Mediador de conflitos
  • Desenvolvedor de talentos
  • Animador de torcidas
  • Líder servidor
  • Expert na área técnica
  • Sábio nas tomadas de decisão
  • Comunicador exímio
  • Planejador estratégico
  • Coach profissional e pessoal
  • Entregador de resultados
  • Visionário
Ok, ninguém consegue ser tudo isso ao mesmo tempo. Talvez por isso essa história de ser chefe, apesar de aprendermos desde criança a gostar, nos coloca como prova viva do Princípio de Peter, que diz: 
Em um sistema hierárquico, todo funcionário tende a ser promovido até ao seu nível de incompetência.
Muito bem, então talvez você queira matar o chefe dentro de você. Seja porque você percebe a impossibilidade das pessoas serem bons chefes (razão prática) ou porque considera que ninguém deveria acumular tanto poder assim (motivação ética). O que importa é que existe um desejo de acabar com essa figura. Não é só isso, você não quer se submeter a um chefe, e as mesmas razões se aplicam. Segue minha receita, mas atenção! Não ofereço garantias, só posso falar a partir de minha experiência. Não existe uma sequência do que precisa ser feito. São apenas 3 estratégias que podem ser seguidas de maneira paralela.
  1. Reflita. Pare e pense muito sobre seus motivos e valores. Se seu desejo de matar seu chefe têm raiz apenas nas questões práticas, talvez o enterro demore muito para acontecer. Autoconhecimento é chave também para você entender onde os seus pequenos chefes se escondem e quais princípios, valores e hábitos são conflitantes. Sim, nós humanos somos um poço de incoerência.
  2. Estude. Sobre como as organizações podem existir sem esse papel que centraliza tanto poder. Você pode ler livros, assistir vídeos na internet, consultar pessoas, fazer workshops e buscar outras fontes. Só tome cuidado com as universidades, pois se lá existem tantos chefes, não será lá que você encontrará fartas referências sobre o assunto.  
  3. Pratique. Não é apenas estudando e refletindo que você construirá novos hábitos e mudará modelos mentais. Você precisa encontrar um grupo de pessoas ou organização onde você possa aprender na prática como é trabalhar e conviver sem um chefe. Sim, exige prática. Mas viver com um chefe também exige, só que nós começamos a aprender desde cedo.
É uma receita simples e que pode ser feita por qualquer um. Ah, e não pense que algo tão forte em nossa cultura e nossas cabeças não irá ressurgir quando estamos relaxados. Existem os chefes zumbis. Eu já vi… dentro de mim.   Quer entender como você pode aprender mais sobre a extinção do papel do chefe? Participe do workshop GD², Gestão Distribuída e Governança Dinâmica. 

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Sobre o(a) autor(a): Rodrigo Bastos

Rodrigo é facilitador e designer organizacional. Formado em Engenharia de Materiais pela POLI-USP. Atuou por mais de 10 anos na criação e condução de programas de desenvolvimento de times e líderes utilizando a educação experiencial como método. Já foi engenheiro e gestor. Apaixonado pelo trabalho com organizações, hoje ele acredita que atuando no sistema social e não nas pessoas, consegue contribuir mais e ser muito mais feliz.

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