O movimento ágil de desenvolvimento de software quebrou paradigmas e revolucionou a maneira como lidamos com projetos na área de tecnologia. Se você já experimentou Scrum, Kanban ou algum outro método ágil na prática, você deve ter feito a pergunta: por que outras áreas e organizações não são assim?
Quando falo em levar a agilidade para toda a sua organização, não estou falando de todos usarem Scrum ou Kanban. Também não é o time comercial fazer uso de uma metodologia ágil. Nada de SAFe, Nexus, Less ou outros frameworks para escalar diversos times de desenvolvimento de software. É outra coisa.
O que eu quero dizer é que podemos levar alguns princípios mais profundos do Manifesto Ágil para toda a organização. Semanticamente, isto não é possível, pois o nome do documento é Manifesto Ágil para Desenvolvimento de Software, certo? Será?
A dualidade entre times ágeis e outras áreas de uma organização sempre me incomodou. Me incomodou tanto que eu sentia uma inquietação, uma incoerência estrutural. De um lado a auto-organização característica dos times Scrum. Do outro, um departamento funcional com um “chefe” carrasco, totalmente orientado a comando e controle. Planos detalhados, cronogramas, pressões para entregar numa data e prever futuro, em oposição a planejamentos adaptativos e ciclos curtos de aprendizado. E mais incoerências. Como resolver esse conflito? Eu descobri que a resposta está no próprio Manifesto.
Destravando a Agilidade Organizacional
Se você atentar-se às linha 1 e 3 do Manifesto Ágil, elas dizem:
“Indivíduos e interações mais do que processos e ferramentas”.
“Responder a mudanças mais que seguir um plano”
Ambas as linhas são aplicáveis a muitos contextos além de software. É uma evidência de que existe um caminho. Mas precisamos de mais do que isso! Foi o que um grupo de entusiastas pensou em 2014. Estes pensadores, incluindo Adam Pisoni (CTO da Yammer), criaram o Manifesto das Organizações Responsivas, cujo objetivo é sintetizar alguns princípios organizacionais disruptivos que já estão alterando drasticamente a maneira que gerimos organizações. O Manifesto é descrito na forma de 5 “tensões”, que devem ser balanceadas apropriadamente, tendendo ao ponto da direita. Ao andarem mais para o lado direito, as Organizações Responsivas são capazes de sobreviver à ambientes mais complexos e incertos. Um resumo das tensões é apresentado abaixo:
Lucro <-> Propósito: No passado, o objetivo das organizações era gerar lucro para os seus acionistas. As Organizações Responsivas criam um propósito brilhante, capaz de atrair pessoas talentosas, comunidades, investidores e clientes.
Controle <-> Poder distribuído: No passado, as decisões eram cascateadas através de uma hierarquia, onde apenas os que estavam no topo pensavam e controlavam o rumo da organização. As Organizações Responsivas fazem uso de mecanismos que dão mais poder de decisão a quem de fato executa e está na linha de frente.
Planejamento <-> Experimentação: No passado, o foco das organizações era competir por eficiência e previsibilidade através da criação de planos detalhados de longo prazo. Hoje, planos perdem o valor assim que são finalizados. As Organizações Responsivas avançam através de experimentação e iteração ao invés de se debruçarem infinitamente em planejamento.
Hierarquias <-> Redes: No passado, fazíamos uso de uma cadeia de comando através da pirâmide hierárquica, terrivelmente bem-sucedida durante a revolução industrial. As Organizações Responsivas focam em relações de redes, que são mais flexíveis e fomentam a autonomia.
Privacidade <-> Transparência: No passado, informação era a moeda do poder. Hoje, o problema não é obter a informação, mas saber qual utilizar. As Organizações Responsivas valorizam a transparência, pois o benefício de compartilhar com todos normalmente supera os riscos.
Ao ler o documento, fiquei extasiado. Não sou o único com essa inquietação! Aposto que você também está inquieto. Essa dissonância entre dois mundos – o tradicional e o responsivo – é real.
Certo, existe um Manifesto legal para me ajudar. Mas como eu implemento isso?
Colocando em Prática
Assim como o Manifesto Ágil foi originado e originou diversas metodologias e frameworks, o mesmo aconteceu (e está acontecendo) com o Manifesto das Organizações Responsivas. Dois métodos compatíveis são apresentados abaixo:
Holacracia (Holocracia): A Holacracia é um framework de governança organizacional que substitui a pirâmide hierárquica por um conjunto de círculos auto-organizados e divididos em papéis. A maior empresa que adotou o modelo até então foi a Zappos (2013), uma loja online americana de venda de sapatos que possui mais de 1500 funcionários. Este infográfico resume o framework.
Sociocracia: A Sociocracia é também um modelo de governança organizacional. A sua versão mais recente (3.0), foi influenciada fortemente pela Holacracia. A principal diferença é que a Sociocracia apresenta modelos de escalabilidade mais flexíveis e não compila todas as suas regras em uma Constituição, como é feito na Holacracia.
Os 5 Estágios de Desenvolvimento Organizacional também podem ajudar você a identificar onde a sua organização está e qual o próximo passo.
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Pronto para levar a agilidade além? Existem caminhos, embora o assunto Organizações Responsivas ainda seja novo. Você conhece outros exemplos de práticas ou frameworks compatíveis com o Manifesto? Comente abaixo :)