Target Teal

Ganhando consciência sobre as interações de um grupo

Espelho de Interações

Ao contrário do que às vezes parece ser a realidade, o mundo do trabalho não é populado por psicopatas manipuladores que querem manter o poder. Na maior parte dos casos, as hierarquias e diferenças se mantêm simplesmente pela força do hábito. Ou seja, no ambiente organizacional temos um bando de pessoas inconscientes sobre os seus hábitos e como estes podem se transformar em antipadrões e prejudicar a eficácia da organização como um todo. O que um dia foi uma boa prática, hoje é um grande limitador.

Introduzir a autogestão é um desafio épico. Enfrentamos diversas barreiras nos trabalhos de design organizacional: sociais, cognitivas, técnicas e emocionais. Tecnologias como o O2 ajudam muito nesse começo, especialmente para que grupos ganhem mais consciência das suas interações. É a partir daí que surge o discernimento entre interações que são produtivas daquelas que não são.

Há algumas semanas intuitivamente descobri um novo padrão para tornar ainda mais visível aquilo que um círculo manifesta quando se encontra. Estou chamando de “Espelho de Interações”. Vou descrever o padrão a seguir.

Atenção: este é um padrão novo e ainda pouco testado. Use por sua conta e risco.

Primeiro, trazer para a consciência

As interações de um grupo mostram claramente como as pessoas se comportam ao se deparar com diferentes tensões. Nestes encontros, que podem ser as Reuniões de Círculo propostas pelo O2 ou outras interações mais informais, antipadrões como o “Tudo é de Todos” podem se manifestar. Se um indivíduo tem uma preferência por sistematicamente esperar pela aprovação de todos antes de tomar ação, o agente de mudanças observador pode claramente observar este filme se desenrolar. Estas são oportunidades que podem ser exploradas para ajudar o círculo ou time a tomar consciência sobre essas interações, que muitas vezes não são identificadas, e portanto nunca adaptadas.

Precisamos dar clareza sobre as interações e os mecanismos que as pessoas estão utilizando para tratar suas tensões, e não apenas no conteúdo de uma conversa e/ou discussão.

Funcionamento do padrão

Durante o modo sincronizar ou qualquer encontro em que o grupo esteja buscando resolver ou tratar alguma questão importante, o facilitador pode pausar as conversas e oferecer um resumo do que foi observado. Isto pode acontecer após cada tensão processada (no modo sincronizar) ou no momento em que o facilitador achar conveniente. Nesta paráfrase das interações o facilitador pode destacar coisas como:

  1. Quem fez o pedido ou trouxe a questão
  2. Que tipo de pedido foi feito (esclarecimento, projeto, ação, dúvida, compartilhamento)
  3. Quem falou e quem não falou
  4. Quem olhou ou quem não olhou
  5. Quem foi consultado ou opinou e quem não
  6. O que o secretário fez com o pedido realizado

Depois de compartilhar as observações, o facilitador pode também promover uma reflexão sobre a qualidade da interação, fazendo algumas perguntas:

  1. Como vocês avaliam a qualidade desta interação?
  2. Esta interação representa a nova estrutura de poder distribuída/autogerida, ou contém sombras da estrutura antiga?

Exemplo de Aplicação

Imagine que você (facilitador) está participante de uma reunião de círculo com quatro pessoas. Kelly (Elo Externo e antiga gestora do time), Roberto (pessoa nova no círculo), Eloá (membro menos experimente) e Yuri (membro mais experiente, um antigo coordenador).

Durante o modo sincronizar, Eloá traz uma tensão relacionada a uma responsabilidade de um papel que ela desempenha, chamado Mestre do Instagram.

Eloá: Gostaria de compartilhar uma estratégia que estou utilizando no Instagram e também saber a opinião de vocês sobre isso. Desde semana passada eu reduzi o número de postagens por semana, porque percebi que o engajamento é o mesmo […]. Eu queria saber como vocês vêem isso.

Roberto: Se você já fez o experimento e os resultados foram esses, acho que não tem porque fazer diferente.

Kelly: Eu acho que não faz sentido porque precisamos manter os nossos usuários com conteúdo. Não é só uma questão de métricas […].

Eloá: Entendo Kelly, mas também poderíamos focar a nossa energia em outras coisas mais importantes […].

[A conversa continua se desenrolando por mais alguns minutos]. No final Eloá diz que está satisfeita.

O facilitador observa atentamente e resolve utilizar o “Espelho das Interações”, compartilhando então o que observou:

  1. A Eloá trouxe uma estratégia que está buscando seguir no papel que ela desempenha de Mestre do Instagram.
  2. Eloá diz que está seguindo a estratégia A (postar menos), mas ainda assim pede a opinião do grupo a respeito.
  3. Roberto e Kelly compartilham sua opinião. Os demais permanecem em silêncio.
  4. Kelly parece que vê algum mal no caminho descrito por Eloá e investe um tempo argumentando que o caminho B (postar mais) é melhor. Kelly parece descontente com a opção sugerida por Eloá (isto é uma inferência) e a conversa se prolonga.
  5. Eloá diz estar satisfeita, mas o seu semblante mostra o contrário (inferência).
  6. O secretário não registra nenhuma saída ou acionável a partir da conversa.

O facilitador então abre espaço para que os participantes falem sobre o espelho oferecido e ofereçam visões diferentes, especialmente das inferências. Eloá confirma que ficou um pouco desconfortável com a conversa. Kelly também assume que estava tentando convencer Eloá a seguir o caminho B. Na sequência, o grupo conversa sobre sua interação e chega nas seguintes conclusões:

Resultado esperado

Depois de repetir o padrão “Espelho das Interações”, um grupo começa aos poucos a ganhar mais consciência sobre as entrelinhas de cada tensão. As estruturas de poder antigas aparecem na superfície, o que dá a todos a oportunidade de pensar a respeito e adaptar o comportamento.

Faço um convite para você, agente de mudanças, a experimentar o padrão “Espelho das Interações”. Depois comente abaixo como foi a sua experiência. Juntos poderemos construir uma biblioteca de padrões mais efetiva.

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