Target Teal

A Dança das Mudanças

a dança das mudanças

No nosso trabalho como consultores em design organizacional e autogestão, faço uma analogia de que estamos em um grande baile. Empresto o  termo “dança das mudanças” que já tinha sido proposto pelo Peter Senge, mas o ritmo, passos e estilo da nossa dança são um pouco diferentes.

Outro autor muito influente na área de consultoria, Edgar Schein, tem uma obra que admiro muito sobre cultura organizacional, além de uma sequência de 3 livros sobre consultoria de processos que é muito poderosa e inspiradora (1, 2 e 3).

Ainda não tenho certeza o quanto nossa abordagem difere da proposta pelo Schein. Uma diferença que me parece saltar ao olhos é que antes, na época de Schein e Senge, existia uma premissa inquestionável. A de que a cadeia de comando é um elemento essencial para estruturar o trabalho nas organizações. Nós questionamos esse pressuposto. Mas não fazemos isso impondo nossas crenças. Muito menos escondemos elas.

Também não trabalhamos implementando métodos e soluções prontas. Os métodos e tecnologias sociais são criados para dar suporte à uma dança. É essa dança que quero descrever.

O Convite

Tudo começa com um convite para uma conversa entre nós da Target Teal e alguém dentro de uma organização (ou baile na nossa analogia). Em teoria essa conversa pode ser iniciada por qualquer um. Porém geralmente, existem pessoas que definem o ritmo, o que ou quem é permitido entrar no salão de danças. Existe o dono da festa, que pode desligar a música e mandar todo mundo embora. Sabemos disso e levamos isso em conta.

Às vezes essa conversa evolui e somos convidados para o baile. Esse convite pode ser tímido de início. Apenas poucas horas para um workshop sobre um tema específico associado a uma dor ou dificuldade. Ou já chegamos sem a perspectiva de irmos embora tão cedo.

Não vendemos um estado final nesse processo. Não é algo como: Vocês estão dançando X e eu vou ensinar vocês a dançarem Y. Topam? É muito mais: Ouço de nossa conversa que vocês estão com dificuldade nesse baile. Talvez possamos trabalhar juntos, que tal? Tenho algumas ideias que podem ajudar.

Nessa hora, precisamos resistir à tentação de explicar toda a dança da qual somos especialistas antes de começarmos. Mesmo porque nunca consegui ter sucesso nisso. É preciso dançar, experimentar e praticar. Não existe a menor chance de aprender só conversando sobre. Uma pequena sessão de experimentação, com uma rápida simulação já foi testada algumas vezes, mas ainda sem sucesso. Prefiro focar na prática real.

A dança começa

A ansiedade rola solta nessa hora. Eu também sinto. Acho que a cada cliente consigo ficar menos ansioso e ajudar as outras pessoas a fazerem o mesmo. Trabalhar a ansiedade é fácil se comparado com o esforço que é trabalhar com o medo.

Algumas pessoas se assustam. Não escondemos nossas crenças e algumas delas são incompreensíveis para os que se acostumaram com o estilo tradicional de dançar. Muitas vezes prefiro não entrar em uma conversa prematuramente. Quando percebo um julgamento de que aquilo que acreditamos parece ser insano ou ameaçador, prefiro focar na prática, nos passos. Um pé de cada vez. Com o tempo voltaremos a falar sobre nossos pressupostos. Não precisamos ter pressa.

Não é um trabalho glamoroso. Não precisa de pirotecnia, como grandes eventos em hotéis e offsites. Gosto de começar pequeno. Trabalhando com um pequeno grupo de interessados em aprender. A frase “todos aprendemos” não é um clichê aqui.

Ensinamos um passo e outro é co-criado ali na hora. Voltamos toda semana e ajudamos nas partes difíceis. Não existem fórmulas, e muitas vezes cabe a cada dançante do baile decidir a velocidade e o próximo passo a ser dado. Com frequência trabalhamos em dois grandes pontos que fazem com que a dança evolua. O porquê e o como.  

O Porquê e o Como

Eles são inseparáveis. Um não existe sem o outro. Não podemos falar em mudanças organizacionais sem falarmos no porquê. Mas sem o como o porquê enfraquece. Dúvidas surgem. Somos tomados pela insegurança. O custo da mudança pode parecer insustentável.

Vale usar um para fortalecer o outro. Se as pessoas não estão muito seguras do porquê mudar, podemos mostrar que mudar não é tão difícil, pois o como não é tão ameaçador ou complicado. Quando elas estão sofrendo em entender como funcionam essas novas práticas, podemos focar no porquê elas foram criadas em outras organizações e porque elas podem trazer benefícios semelhantes naquele contexto.

Trabalhamos inicialmente no sistema social, nas relações e na cultura. E apenas pontualmente ajudamos na jornada de cada um. Sabemos que alguns sofrem mais que outros e nessa hora não podemos ou conseguimos assumir a posição de salvadores.

Gostamos de métodos e tecnologias sociais, pois elas sistematizam um como que foi gerado ou descoberto ao longo de décadas por muitas pessoas e organizações. Ignorar isso para criar o seu como do zero é só uma maneira de proteger um ego inflado. Você sempre pode hackear algo que você se apropriou.  

Os passos mais comuns

Sabemos que cada organização é única. Porém em nosso trabalho com design organizacional descobrimos que raramente deixamos de trabalhar com um ou mais dos três passos abaixo. São passos que ao propormos abrimos as portas para muitas outras mudanças.

Firmar acordos para distribuir autoridade de maneira explícita – Por meio da construção dos papéis que estão sendo desempenhados hoje na organização. Não queremos forçar autonomia goela abaixo, mas dar clareza sobre qual é o nível dela. Se conseguimos construir e trazer para o dia-a-dia esses papéis, sabemos que a dança está fluindo.

Criar ritos e um ritmo para o processamento de tensões – Nossa intenção é ajudar a melhorar a qualidade das reuniões regulares das equipes. Para que elas se tornem um espaço aberto e eficaz no processamento de tensões de todos os integrantes. Acreditamos muito no poder que existe em deixar as pessoas se apropriarem e resolverem seus próprios problemas, gerando um poderoso efeito acumulativo. Se todos tiverem espaço para resolver suas tensões, a organização evolui. Passo a passo.

Definir contornos nas diferentes instâncias decisórias, estruturando uma holarquia – Queremos ajudar as pessoas a entender como pode funcionar uma hierarquia de escopo e que elementos podem por meio da auto-regulação gerar o equilíbrio dinâmico entre alinhamento e autonomia das partes de uma organização. Em outras palavras, trabalhamos na interface entre diferentes times e como criar uma estrutura facilmente adaptável e fractal.

Precisa ser contagiante

Quando um pequeno grupo começa se beneficiar da nova maneira de dançar, deixamos de ser os únicos loucos falando uma linguagem diferente. Não somos mais os únicos agentes de mudança.

Gostamos desse processo de contágio. Nada de rollout massivo em toda organização. Sabemos que alguns gestores serão mais reticentes, ok, sem problemas. Trabalhamos com os mais dispostos. Vamos aos poucos contagiando as pessoas.

Como nesse vídeo viral dos primórdios do Youtube:

O show continua 

A qualquer momento podemos parar de exercer nossa influência sobre o baile. Pode ser uma escolha nossa, pois identificamos que estamos dançando sozinhos. Talvez seja motivado pela insatisfação de alguém que detém a autoridade de fazer a música parar. Ou até para fortalecer agentes de mudanças internos que podem aproveitar o espaço após a nossa saída.  

Por isso forçamos um recontrato com nossos clientes a cada 3 meses. É fundamental essa reavaliação profunda. Mesmo assim, raros são os clientes que atuamos por menos de 9 meses. A dança da mudança não é algo que para. Ela sempre continua. Não precisamos estar lá para que ela aconteça. Só gostamos muito de poder ajudar.

Talvez os princípios delineados pelo Schein há 20 anos atrás ainda sejam válidos em nossa dança:


Se você quiser bater um papo sobre essa dança, vamos marcar um café? Que tal?

 

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