Na internet, vemos muitos posts diferenciando um líder de um chefe. Ambos ocupam uma posição de comando dentro de uma empresa, mas o chefe é aquela pessoa desumana, autoritária, egoísta e que precisa se reafirmar. O líder, por outro lado, busca ouvir e envolver os seus subordinados, é inspirador, preocupa-se com a sustentabilidade do trabalho e com bem-estar das pessoas. Se você tiver que escolher entre os dois, certamente é melhor você ser um líder do que um chefe. Mas nós também podemos dar um passo além, questionando a existência da relação superior-subordinado. Por que o chefe existe? Será que existem empresas sem chefes?
O que é um chefe?
Por definição, o chefe é alguém que tem mais autoridade do que você. Ele está acima de você no organograma e pode, teoricamente, sobrescrever qualquer decisão que você tomou. As funções do chefe normalmente incluem aprovação, contratação, demissão, avaliação, promoção, treinamento e supervisão.
Se revisitarmos o trabalho de Frederick Taylor de 1911 (sim, mais de um século atrás), veremos que o chefe ainda segue os princípios da administração científica:
à gerência caberia afixar trabalhadores numa jornada de trabalho controlada, supervisionada, sem interrupções, a seu controle, podendo o trabalhador só parar para descansar, quando for permitido, com particularização de cada movimento […]
a gerência não podia deixar o controle do processo de trabalho nas mãos dos trabalhadores […]
Você, como subordinado do seu chefe, vai inevitavelmente temer desagradá-lo por um motivo claro: autopreservação. Se o seu chefe é a única pessoa que pode determinar o seu sucesso ou fracasso na organização, como poderia ser diferente? A realidade é que por mais igualitário e bonzinho que o seu chefe ou líder seja, o poder é dele. Perverso, não?
Por que o chefe existe?
Se você leu o sobre Os 5 Estágios de Desenvolvimento Organizacional, você deve se lembrar que a pirâmide hierárquica foi uma invenção das organizações conformistas (cor âmbar). Na sua origem, o principal objetivo desse mecanismo era gerar estabilidade, permitir planejamentos de longo prazo e estabelecer uma relação de controle do topo em relação à base. Um pressuposto básico deste modelo era que as pessoas não queriam trabalhar e precisavam ser supervisionadas.
No passado, os empregados eram contratados para executar uma função pré-especificada e com instruções claras. Inovação não era uma prioridade. Sabemos que hoje a realidade é outra.
“O trabalho das organizações do século 21 é predominantemente criativo e colaborativo, um contexto onde a construção de relações saudáveis entre todos é fundamental. “
O abuso de poder e a competição pelos cargos mais altos da hierarquia não favorece essa condição. Se a relação superior-subordinado não é desejável nas organizações do futuro, será que podemos eliminá-la?
Podemos acabar com a hierarquia e os chefes?
Podemos. Algumas empresas já mudaram. No entanto, acabar com o chefe não significa que as funções que ele normalmente desempenha serão abandonadas. Precisamos de outros mecanismos que exerçam as funções de aprovar, contratar, demitir, avaliar, promover, treinar e supervisionar (essa não).
Empresas sem chefes
Morning Star (EUA): Processadora de alimentos responsável por 40% do molho de tomate do país, sem chefes ou gestores. Ao entrarem na organização, os colaboradores criam uma carta compartilhada entre diversos pares (The Colleague Letter of Understanding), listando as suas responsabilidades, papéis e como podem ajudar melhor a empresa. Quando alguém quer comprar uma nova máquina, não é necessário pedir permissão para o “líder”. Ao invés disso, as potenciais compras são discutidas e acordadas entre os colegas impactados pela decisão, o que é chamado de processo de aconselhamento. Sim, autogestão pode funcionar até no chão de fábrica.
Vagas.com (Brasil): Na Vagas.com não existe hierarquia ou chefes que concentram o poder. Toda vez que um membro da organização precisa tomar uma decisão importante, ele envolve todos os colegas que achar necessário para buscar “consentimento”. Nem todas as decisões são tomadas dessa forma: as mais simples são tomadas de forma autocrática pelos colegas, pois eles “presumem consenso”. Se você discorda de uma decisão tomada, você pode abrir uma “controvérsia” e voltar a discuti-la.
Sistemas que substituem os chefes
No livro Reinventing Organizations, Frederic Laloux descreve diversas práticas das organizações evolutivas (verde-azuladas) que são usadas para estabelecer a autogestão, o propósito evolucionário e a integralidade. Entre essas práticas está o processo de aconselhamento utilizado pela Morning Star, que substitui a função de aprovação de um chefe convencional. Existem outros mecanismos que substituem as demais funções, tornando este papel desnecessário.
Um sistema completo que você pode adotar para trazer a auto-organização e eliminar a relação entre chefes e subordinados na sua organização é a Holacracia, Este framework de governança organizacional substitui a pirâmide hierárquica por um conjunto de círculos auto-organizados e divididos em papéis. A maior empresa que adotou o modelo até então foi a Zappos (2013), uma loja online americana de venda de sapatos que possui mais de 1500 funcionários. Aqui você encontra um guia básico para iniciantes. A Holacracia não define um mecanismo padrão para contratação, demissão ou avaliação. No entanto, é comum que estas funções sejam desempenhadas por processos distribuídos entre vários papéis e pessoas, evitando com que uma decisão crítica como uma demissão seja resultado da vontade de apenas um indivíduo.
A relação superior-subordinado não é mais necessária para que uma organização obtenha sucesso. Pelo contrário: ela pode ser nociva, pois enfraquece as relações e dá espaço para abuso de poder. Além disso, existem sistemas alternativos que substituem as funções de um chefe tradicional. Muitas organizações já estão mudando. A sua está? Como funcionam os processos de avaliação, contratação, demissão e promoção na sua empresa? Essas decisões são exclusivas dos chefes? Comente abaixo :)