Semana passada, por coincidência, recebemos três pedidos de reuniões de empresas diferentes, que consideravam contratar a Target Teal para projetos de consultoria em Design Organizacional. Após ouvir a demanda dissemos: não, obrigado.
Provavelmente você acha isso estranho, afinal as empresas de consultoria vendem sua expertise, e não comum, mesmo quando algumas não possuem determinada expertise, elas aceitam o trabalho e buscam parceiros ou simplesmente fingem uma capacidade que não possuem. O que nunca foi nosso caso, pois Design Organizacional é a nossa praia, certo?
Acontece que certos projetos de Design Organizacional não nos atraem, outros chegam a causar uma forte reação ali na região abdominal.
O exemplo clássico é a demanda por um redesenho do organograma. Já vivemos esse tipo de projeto, e de diversos lados do balcão. Muitas empresas passam por isso a cada 2 ou 3 anos. Costuma ser um processo que troca seis por meia dúzia ou em outras ocasiões promove grandes sacrifícios no altar da eficiência operacional. Não acreditamos nesse caminho, pois na melhor das hipóteses ele restringe o trabalho do designer organizacional como alguém que redesenha fronteiras em um mapa seguindo instruções de um grupo seleto de iluminados.
Preferimos focar na criação de estruturas que ofereçam transparência, distribuam autoridade e promovam adaptabilidade nas organizações. Ajudamos a criar mapas de natureza radicalmente diferentes. Leia aqui sobre como ajudamos organizações a construírem seus mapas de acordos.
Além disso, o Design Organizacional vai muito além do organograma. Precisamos olhar para outras práticas. Não encorajamos o uso de metas individuais remuneradas, avaliações de desempenho, budget anual, e outros mecanismos que privilegiam o comando e controle. Em vez disso, trabalhamos com acordos claros sobre expectativas, reuniões facilitadas e diferentes abordagens para alocação de energia e dinheiro.
Além do escopo do projeto, sabemos que quando uma grande empresa nos contrata para algo que vai além de alguns workshops, ela está buscando alguém que vai incomodar e propor coisas que não foram consideradas. E esse tipo de contratação precisa ter um comprometimento e envolvimento da alta gestão, e não pode ficar restrito ao redesenho de um organograma. Por mais que ele faça uso de termos que estão na moda, como “squads”.
Mais exemplos
Outras demandas que já ouviram um não da Target Teal e seus respectivos contextos e justificativas:
Demanda: capacitar facilitadores que iriam ensinar novos procedimentos operacionais para uma rede de filiais.
Contexto e justificativa: os procedimentos e processos não estavam em discussão e não eram adaptáveis mediante acordos claros. Portanto, eram grandes as chances de que o resultado final do projeto fosse um desastre, pois fazer alguém executar procedimentos como robôs raramente funciona e não é algo que gostamos de promover.
Demanda: facilitar a construção de um planejamento estratégico.
Contexto e justificativa: era uma organização pequena com cerca de trinta pessoas. Os problemas identificados eram vários e eles já tinham no passado desenhado planos que não eram executados por conta do ambiente dinâmico e de difícil previsão. Sugerimos outro caminho para cuidar das dores e tensões, mas a expectativa deles era por algo familiar mesmo que pouco útil.
Demanda: executar um longo programa de capacitação em inovação para a diretoria.
Contexto e justificativa: era uma empresa gigante e que já estávamos trabalhando com consultoria para eles. A maior parte das tensões era relacionada com o excesso de trabalho e processos decisórios disfuncionais. Eram grandes as chances desse programa só piorar as coisas.
Demanda: fazer um workshop para ensinar gestores a darem melhores feedbacks para seus subordinados.
Contexto e justificativa: ao perguntarmos o porquê da demanda, as respostas demoraram para aparecer. Finalmente disseram que a diretoria não estava feliz com a performance dos times e queria que a média gestão desse melhores feedbacks. Para nós não fazia sentido atuar pontualmente em problemas tão grandes e pior ainda “passar recados” de figuras de autoridade quando priorizamos promover uma comunicação mais efetiva e humana.
São os “nãos” que nos definem
Não temos prazer em dizer não. Ok, às vezes a minha pior parte se regozija quando o não vai para grandes empresas famosas por feitos e práticas eticamente questionáveis. Mesmo assim, nunca foi fácil dizer não, porém a cada ano que passa na Target Teal, me sinto mais à vontade. Primeiro porque as oportunidades de trabalho que recebemos não são escassas. Além disso, a maneira como a decisão é tomada na TT torna tudo mais fácil.
Funcionamos por meio de adesão voluntária dos consultores aos projetos. Ninguém é forçado ou mesmo incitado a trabalhar com um cliente. Quando um cliente recebe um não, é porque nenhum de nós topou. Conversamos sobre nossas decisões e interações com os clientes o tempo todo. Essa rede de suporte e confiança é incrível e com ela aprendo a cada dia a dizer não.
Por fim, são nossos “nãos” que nos definem. A Target Teal nasceu do desejo de dizer “sim” apenas para trabalhos e projetos que acreditávamos. Celebro esse caminho e convido você também a dizer outros “nãos” em sua vida.
Se você acredita que tem um trabalho que tem a nossa cara, vamos marcar um papo?