Fundadores de startups e investidores inevitavelmente irão se deparar com a questão: como dividir cotas de forma justa? O processo mais comum é sentar e discutir um percentual de antemão, normalmente especificando uma divisão 50/50 para dois sócios, 33/33/33 para três sócios e assim por diante. O problema dessa abordagem é que ela é extremamente frágil. Não só frágil, mas incompatível com o mundo VUCA por um simples motivo: as coisas mudam. Mesmo que os sócios tenham concordado inicialmente em dedicar a mesma energia (tempo, dinheiro, recursos) ao negócio, isso raramente se concretiza. Um dos sócios pode se deparar com uma doença na família, que o impede de dedicar-se integralmente como havia prometido. Ou talvez a empresa passe por um período em que um novo investimento é necessário e somente um dos fundadores tenha recursos disponíveis para investir. E assim por diante. A natureza dinâmica do mundo não combina com a estaticidade da divisão de cotas de antemão. E se você estabeleceu que cada um ficaria com metade do bolo (50/50), mas por algum motivo você quer mudar isso, só existe um caminho: a renegociação.

Renegociando

Subitamente a divisão estabelecida não parece mais justa e é necessário ter aquela conversa difícil e dolorosa com os demais investidores e fundadores. No entanto, falar sobre isso não deveria ser tão desconfortável. Acontece que estamos presos na velho paradigma do “prever e controlar”, onde acreditamos piamente que é possível dividir cotas antes do negócio se desenrolar. Isso é tão irreal quanto um plano estratégico de 5 anos. Mas existe uma alternativa melhor. Mike Moyer desenvolveu um método chamado Slicing Pie, ou “Dividir o Bolo” em português, que propõe um modelo de divisão de ações dinâmico.

Como dividir cotas com o Slicing Pie

O Slicing Pie determina que as contribuições de cada sócio/fundador devem ser registradas mensalmente em um software ou planilha de controle. Isso inclui o tempo investido, dinheiro aplicado na empresa, equipamentos emprestados, propriedade intelectual concedida e assim por diante. Assim que o negócio estiver consolidado em uma zona mais segura e gerando lucros (ou outra condição acordada de antemão), o bolo é dividido. Todas as contribuições passadas são somadas e a divisão das cotas acontece em função do % de contribuição de cada sócio. Muito melhor, certo? Obviamente, as contribuições são sempre subjetivas. O que é, por exemplo, “tempo investido” no negócio pode ser questionado. Ainda assim o Slicing Pie fornece um método que estabelece uma base para essa conversa, que é muito melhor do que simplesmente esperar que a contribuição de todos será igual (e forçar que seja).

Reinventando Organizações

Para lidar com as volatilidades do mundo e criar negócios centrados no propósito, organizações devem repensar não somente gestão, governança e cultura, mas os aspectos legais e estruturais. Esse foi um post sobre a divisão de ações que é perfeitamente compatível com os modelos de gestão que pregamos aqui na Target Teal. No próximo falaremos sobre algumas considerações importantes ao conceber uma empresa evolutiva.  

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Sobre o(a) autor(a): Davi Gabriel Zimmer da Silva

Davi é designer organizacional e facilitador na Target Teal, especializado em melhorar interações entre times e indivíduos no ambiente corporativo. É pioneiro na prática de Holacracia no Brasil e co-autor da Organização Orgânica, uma abordagem brasileira para autogestão. Davi é formado em Sistemas de Informação pela UNISINOS e pós-graduado em Psicologia Positiva pela PUCRS. É amante dos temas desenvolvimento humano e de organizações, produtividade, futuro do trabalho e cultura organizacional.

2 Comments

  1. Carlos Carty 16 de fevereiro de 2020 às 20:20 - Responder

    Oi Davi onde posso encontrar um modelo de contrato slicing pie? abraço!

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