Com uma certa frequência ouço questionamentos sobre como fica a liderança nas organizações que funcionam a partir do Paradigma Evolutivo ou Teal. Se você ainda não conhece os estágios evolutivos propostos por Frederic Laloux, dá uma olhada nesse texto. Aqui vai minha tentativa de dar algumas respostas e contribuir com a conversa.

Existe um caminho que segue o que foi descrito no livro do Laloux e parece ser suficiente para muita gente. Parte da ideia que a liderança é uma construção cultural e que o significado da palavra está ligado diretamente ao paradigma ou estágio evolutivo da organização.

Podemos desenhar um diagrama e nomear os diferentes tipos de líder para cada estágio ou paradigma.

Tipos de líderes de acordo com o estágio evolutivo

No paradigma Teal ou evolutivo teríamos o líder emergente.

Mas acho essa resposta um pouco insuficiente. Para chegar perto de algo mais esclarecedor, acho que precisamos encarar o fato de que usamos a palavra liderança em diversos contextos e com diferentes significados.

Então, para responder eu agora retruco: Qual significado de liderança que você se refere?

liderança

li·de·ran·ça

s.f.

  1. Função de líder.
  2. Capacidade de uma pessoa em atrair seguidores e influenciar pessoas.
  3. Fenômeno social.

Liderança como função

Usamos liderança para designar um cargo, função ou nível dentro de uma estrutura ou organização. Assim é comum dizermos: “preciso falar com a liderança sobre esse projeto”, “vamos promover um encontro de líderes de nossa empresa” ou “cheque com seu líder se isso é uma boa ideia.”

Acho curioso algumas pessoas dizerem: “aqui na nossa empresa não tem chefes, apenas líderes“. Quando na verdade elas só trocaram a palavras, mas o significado é o mesmo. Elas se referem a um grupo específico de pessoas que atingiram uma certa posição dentro da estrutura organizacional. As expectativas sobre esses líderes são as mesmas do que dos antigos chefes. Ser responsável por uma equipe, delegar responsabilidades, bater metas, dar feedback, motivar, planejar, supervisionar, etc.

Claro que as organizações não deixam ninguém que não tenha competência assumir a função de líder, certo? Humm, não sei. Para mim, vale muitas vezes o princípio de Peter.

Esse significado de liderança em uma organização Teal deixa de existir ou passa por uma grande mutação. A organização passa a ter muitos cargos de liderança, porém nenhum deles está associado a ser líder (função) de um grupo de pessoas. Então podemos ter um líder que é simplesmente o responsável por entregar um produto final, mas que não manda em um time. Uma função de líder, mas sem um grupo de liderados.  

Me parece que nesse caso é até melhor mudar o nome, e escolher por exemplo, Product Owner ou Dono do Produto. Assim evitamos a bagagem que a palavra liderança carrega.

Liderança como competência

Falamos em liderança também para nos referir a um conjunto de competências. Esse significado surge quando falamos: “precisamos oferecer um workshop sobre liderança” ou “gostaria de me desenvolver como líder”.

Aqui a lista de competências é variada, mas o comum é pensarmos em habilidades interpessoais, uma certa capacidade etérea de inspirar e motivar as pessoas e uma visão estratégica além do alcance.

Para mim, uma competência que deveria entrar no rol de habilidades de um “líder teal” se é que isso existe, seria a de designer organizacional.  

Mas talvez essa ideia de definirmos um conjunto de competências para um líder não faça sentido algum em uma organização teal. Simplesmente porque nesse tipo de organização a liderança é tão emergente, que para cada situação ou desafio, um líder diferente surge.

Liderança como fenômeno

Chegamos a uma definição ainda pouco usada, mas que faz muito sentido em uma organização teal. Podemos olhar para a liderança como um fenômeno social. E como fenômeno podemos ter mais ou menos dele em uma certa organização em um determinado momento.

Podemos imaginar uma organização onde as pessoas se sentem perdidas, sem muita clareza do porque elas estão ali reunidas. E o pior, ninguém consegue mudar esse cenário, ninguém facilita um processo, todos batem cabeça até o grupo perder tanta energia que se desintegra. Nessa história acho que faltou liderança.

Ou podemos imaginar uma organização onde as pessoas estão engajadas e trabalhando para um mesmo propósito. Cada uma tem seus papéis e atuam de maneira autônoma, mas sempre buscando colaborar e pedir ajuda quando possível. Diferentes líderes emergem, dependendo do momento e existe um sentimento de que todos se sentem mais poderosos por trabalharem juntos. Nessa história temos uma abundância de liderança.

Penso que é um fenômeno que se manifesta nos momentos que reconhecemos a presença de um iniciador, um facilitador, um expert em alguma área, alguém que questiona, alguém que se entrega, alguém com coragem ou uma pessoa que serve de exemplo.

São muitas as possibilidades em vivermos e sentirmos a liderança emergente, típicas de organizações teal, mas todas passam por algo parecido com um jazz ou uma dança, onde influência, cuidado, admiração, reconhecimento, confiança e poder de ação fazem parte do ritmo.

Como estimular a liderança nas organizações

Se o objetivo é fomentar a liderança como um fenômeno social, precisamos perseguir esse objetivo de forma oblíqua.  Ou seja, não diretamente. Sem grandes planos de desenvolvimento de líderes, sem posters na parede e nem workshops.

Trabalhe na criação de um ambiente colaborativo. Confie e busque outras maneiras de se organizar que não seguem a boa e velha cadeia de comando. Certifique-se que existe um propósito para organização.

Com estratégias que atuam no sistema, e não apenas nos indivíduos, naturalmente as pessoas se sentiram convidadas a contribuir com a banda tocando seu instrumento, ou entrando nessa dança coletiva que a é liderança nas organizações.


Se quiser bater um papo para entender como a Target Teal pode ajuda-lo a trabalhar com o tema liderança em sua organização, é só mandar uma mensagem.