Com frequência tenho conversas com dois tipos de pessoas. Aqueles que querem nos contratar para “implementar” um novo modelo de gestão e aqueles que criticam a nossa suposta abordagem onde propomos um modelo de gestão que serve para todas as organizações.

Os dois não poderiam estar mais errados. O motivo talvez seja uma falha na maneira como comunicamos nosso trabalho.  

Em nossos workshops ou na tecnologia social O2 não apresentamos uma solução milagrosa na forma de um modelo de gestão revolucionário que serve para todas as organizações.

Apresentamos um novo léxico (conjunto de palavras de uma língua) que a maioria das pessoas não conhece. E por meio do contato com essa nova linguagem, cada indivíduo pode aprender um novo vocabulário e assim alterar de maneira profunda como suas organizações funcionam.

Os problemas e desafios ainda continuam existindo, só que agora a pessoa pode tratar destes problemas usando uma nova linguagem. Sendo mais preciso, uma nova linguagem de padrões. Vou chegar lá. Primeiro proponho um teste para você avaliar a sua fluência.

Conte quantos termos ou palavras, em cada uma das listas abaixo, você ouviu no seu ambiente de trabalho nos últimos meses.

Linguagem 1:

  • Estrutura de Círculos Aninhados
  • Espaço Tribal
  • Elos Duplos
  • Decisão por consentimento
  • Estratégia Emergente
  • Domínios
  • Processo de aconselhamento
  • Papel de Facilitador
  • Proposta de governança ou de mudança estrutural
  • Propósito Evolutivo
  • Transparência e visibilidade
  • Check-in
  • CNV
  • Reunião de Círculo
  • Integrar objeções

Linguagem 2:

  • Relação superior/subordinado
  • Cadeia de comando
  • Estabelecimento de metas
  • Blindar o time
  • Garantir resultados
  • Feedback para o funcionário
  • Plano Estratégico
  • Prazos
  • Incentivos, bônus e recompensas
  • Plano de carreira
  • Budget
  • Gestor pulso firme
  • Avaliação de desempenho individual
  • Chefe
  • Consenso

 

Aposto que você tem familiaridade com os termos da Linguagem 2. Afinal ela é ensinada e praticada em empresas e universidades. A Linguagem 1 não é tão popular, e mesmo que você conheça alguns termos, talvez eles não estejam presentes no seu dia a dia.

É essa linguagem ainda pouco conhecida que talvez mereça o investimento do seu tempo para aprender e praticar mais.

Linguagem de Padrões

O termo Linguagem de Padrões foi proposto por Christopher Alexander no influente livro Uma Linguagem de Padrões escrito em 1977. O objetivo era mapear soluções de sucesso para problemas que acontecem em um determinado contexto. O que define um padrão é a tríade: solução / problema / contexto.  

Aplicar um determinado padrão não necessariamente leva ao mesmo resultado. Não é uma receita de bolo.

Além disso, surge também o termo irmão: antipadrão é uma solução ruim e recorrente. Ela ou não resolve o problema ou cria um contexto resultante com muitos e piores problemas. A linguagem 2 da tabela está cheia deles. 

No final é isso que apresentamos. Uma nova linguagem de padrões para o mundo organizacional. Não inventamos esses padrões, eles emergiram a partir de experimentos feitos por pessoas tentando resolver problemas semelhantes em contextos organizacionais.

São padrões que fortalecem a auto-organização e autogestão, abrem espaço para a integralidade e facilitam a realização de um propósito. As pessoas que vivem essas práticas no dia a dia, relatam que sentem mais autônomas, engajadas, gerando mais impacto, ágeis, aprendendo mais e felizes.

Aprender essa nova linguagem, vai além de conhecer os conceitos que estão por detrás das palavras. Envolve uma prática, parecida com aquela que fazemos ao termos contato com uma nova língua. Leva tempo e só se aprende enquanto se pratica. Usando outra metáfora: é impossível aprender a nadar antes de entrar na água.

Em workshops, apresentamos padrões que as pessoas não conhecem. Nos processos de consultoria, atuamos imersos na rotina das organizações ajudando as pessoas em seus processos de aprendizagem. Com o tempo, a nossa presença se torna dispensável, pois um número suficiente de pessoas aprendeu e faz uso desta nova linguagem.

Se novas pessoas entrarem na organização, elas aprenderão a linguagem da mesma maneira que aprendemos quando nos mudamos para um novo país. Trabalhamos por essas mudanças sistêmicas. É lento, mas duradouro.

Como o O2 propaga essa nova linguagem

Estamos em um processo muito intenso de criar e evoluir um novo catalisador para a auto-organização, chamado Organizações Orgânicas (O2). Acreditamos que ao dividirmos esse corpo de conhecimento em duas partes, facilitamos o aprendizado e a adoção.

  1. Meta-Acordos – As regras mínimas para você começar a jogar o O2. Seria a materialização dos padrões mínimos necessários em princípios e diretrizes claras. Deixando muito espaço para adaptação ao contexto organizacional, mas evitando uma confusão sobre qual padrão é essencial. Chama-se meta-acordos pois existe para criar acordos a partir dele. Essa criação de acordos em vários pontos da organização e de maneira auto-organizada acaba impulsionando a autogestão.
  2. Biblioteca de Padrões – Estamos organizando um vasto compêndio com padrões e antipadrões que pode ser muito útil para as pessoas se inspirarem em práticas que já funcionaram em outras organizações que possuíam problemas e contextos similares e que estão adotando a autogestão e a O2.  

É impossível copiar um modelo de gestão

Cada organização é única. Características culturais, histórico, estrutura, contexto, ambiente de mercado e propósito conferem a cada organização uma identidade única.

Baixe esse Canvas Organizacional para ajudar a mapear algumas destas características.

Mesmo que você quisesse copiar um modelo de gestão de outra organização, no processo de adoção de práticas e sistemas, muita coisa seria ajustada e adaptada.

É muito mais fácil partir da premissa que você quer aprender e usar uma nova linguagem de padrões. Você não ignora a experiência e prática dos que vieram antes de você e nem cai na ilusão de que é possível seguir uma receita.


Se você quiser saber mais sobre práticas e padrões que estão surgindo no mundo organizacional, mande uma mensagem. Vamos tomar um café.