Não é segredo que muitas pessoas nas organizações prezam por frases de impacto escritas na parede, onepagers inspiradores e manuais de funcionários. Tem muita gente que acredita que essas mensagens inspiradoras realmente capturam a essência da cultura organizacional.
De fato, toda a gestão tradicional é baseada no pressuposto de que devemos estabelecer metas e definir tarefas que podemos executar para atingir esses objetivos.
A coleção de construtos como visão, missão, objetivos e propósito é infinita.
No entanto, são raros os casos em que a frase de efeito representa o que a organização realmente faz.
Podemos descer o nível de abstração e pensar também em algumas práticas organizacionais como avaliação de desempenho, reuniões, orçamentos de longo prazo e muitas outras que são declaradas como algo que deveria ser “benéfico” para as pessoas e a organização como um todo mas que na prática parecem ir numa direção oposta.
É nesse sentido que Stafford Beer, um grande teórico da gestão com base na cibernética, traz a sua provocação dizendo que o propósito de um sistema é o que ele faz. Afinal, não faz nenhum sentido em afirmar que o propósito do sistema é algo que ele constantemente deixa de fazer.
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A frase “o propósito do sistema é o que ele faz” é uma tradução do inglês “the purpose of a system is what it does”. Geralmente esta heurística é abreviada como POSIWID.
A provocação aqui é simples. Quando queremos observar um sistema qualquer, ao invés de descrever a realidade desejada perfeita que queremos alcançar, podemos começar por uma postura realista que assume aquilo que temos hoje a partir do comportamento do sistema.
Podemos fazer isso a partir de algumas perguntas como:
– Qual é o propósito declarado do sistema?
– Qual é o comportamento do sistema?
– O que esse comportamento diz sobre qual é o propósito do sistema?
– Existe coerência entre a finalidade real e o propósito declarado?
– Se não, qual é a estrutura do sistema?
– Como podemos alterar a estrutura para conduzir um novo comportamento?
Ao observar sistemas como esta abordagem, invertemos a noção de propósito. Em vez de olhar para o comportamento de um sistema como problemático, você olha para isso como se o sistema tivesse sido desenhado para performar assim. Quanto pior o resultado, mais claro é o valor do pensamento POSIWID.
Há muitas coisas que as empresas fazem hoje que seriam bastante vergonhosas, para dizer o mínimo, quando comparadas com ‘o propósito da organização’.
Vamos observar esta imagem onde temos várias inferências da minha parte sobre alguns sistemas que estão presentes em muitas organizações.
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Perceba que ao fazer esta análise, estou fazendo conjecturas sobre qual é o propósito de cada sistema com base nos comportamentos que geralmente observo nas organizações.
Tudo indica que em vez do sistema ser mal desenhado para fornecer um bom resultado, ele é brilhantemente desenhado para gerar um resultado ruim.
Um outro exemplo clássico aplicando o POSIWID poderia ser uma pergunta do tipo “o objetivo de um sistema educacional é ajudar as crianças a se tornarem indivíduos completos ou é treiná-las para passar no vestibular?”
O propósito de um sistema é o que ele faz. Isso pode parecer uma afirmação direta e até óbvia à primeira vista, mas tente fazer este teste simples com seus funcionários, líderes, clientes e outros stakeholders importantes. Pergunte a eles: “Com base nas ações e interações mais recentes da organização, qual você diria que é nosso propósito demonstrado?”
Escolha qualquer processo da sua organização, aplique o POSIWID e surpreenda-se com as descobertas.
Ignore o propósito oficial do sistema, ignore o que os designers e exercutivos dizem e concentre-se em seu comportamento real.
Este artigo faz parte da nossa compilação de abordagens para melhor compreender sistemas sociais e desenhar intervenções com base no pensamento sistêmico.
O POSIWID é bastante útil para auxiliar no processo de mapeamento de sistemas e identificar modelos falaciosos. Ao observar sistemas com uma postura crítica, acredito que teremos melhores chances ao lidar com a complexidade do design organizacional.
Aprenda mais sobre tudo isso no nosso curso de pensamento sistêmico e complexidado aplicados à organizações.
Obrigado por ler até aqui! :)
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