O termo gestão horizontal vem sendo utilizado para descrever práticas que buscam eliminar completamente ou reduzir a hierarquia. As formas como isso acontece variam de empresa para empresa e são tão amplas quanto o termo.

A gestão horizontal tem se popularizado bastante, com inúmeros livros que abordam o tema. Mais recentemente, o livro Reinventando as Organizações de Frederic Laloux foi traduzido para português e vemos uma crescente demanda pelo assunto.

Alguns fatores têm feito as empresas procurarem novas formas de organizar o trabalho. No setor de tecnologia da informação, há muita carência por profissionais qualificados. Em 2017, apesar da crise, houve aumento na demanda. A preocupação em criar ambientes colaborativos e bacanas de se trabalhar faz com que algumas empresas busquem a gestão horizontal para atrair e reter talentos.

O engajamento no trabalho também é uma questão global. A Gallup constantemente publica relatórios sobre o assunto e os números não são nada animadores. Em 2017, 85% dos trabalhadores pesquisados não estão engajados em seus trabalhos. Mais um indício de que há algo de muito errado com o mundo do trabalho.

Apesar da popularização, há muita confusão em torno do termo gestão horizontal. Esse texto busca desfazer essas confusões.

Diferenças entre Gestão Horizontal e Autogestão

Na Target Teal, costumamos diferenciar os termos gestão horizontal e autogestão.

Gestão horizontal é:

Conjunto de práticas organizacionais que contrapõe a estrutura hierárquica da cadeia de comando, podendo acabar com ela, sem propor uma estrutura substitutiva. Seria o equivalente a eliminar os cargos de gerentes e diretores em uma empresa, colocando todos os que fazem parte da organização com a mesma autoridade e poder de decisão.

Já o termo autogestão se refere a outra coisa:

Conjunto de práticas organizacionais que buscam distribuir a autoridade, dando clareza de responsabilidades e o máximo de autonomia a cada integrante da organização. Nesse caso, as pessoas deixam de reportar a um superior, porém seguem um conjunto de regras e acordos firmados coletivamente. Esses acordos formam uma estrutura organizacional que não exige que todos tenham o mesmo poder de decisão e autoridade, apenas deixa claro como isso é feito e impede a relação de chefe-subordinado.

Se você estiver familiarizado com os estágios de desenvolvimento organizacional do Frederic Laloux, vai prontamente identificar gestão horizontal como relacionado ao paradigma pluralista-verde. Já a autogestão está conectada com o estágio evolutivo-teal.

Gestão Horizontal não é Holacracia e vice-versa

A Holacracia é comumente confundida com gestão horizontal e às vezes até usada como sinônimo. Mas não se engane. Holacracia é um sistema de governança de organizações que busca distribuir autoridade e governar a empresa pelo seu propósito. Sim, podemos dizer que Holacracia é um tipo de gestão horizontal. Mas é um tipo tão específico que não pode ser confundida com a categoria mais ampla. Para saber mais detalhes sobre ela, veja esse guia que criamos.

A propósito: o correto é Holacracia (com a), e não holocracia (com o).

Perigos da gestão horizontal

A Target Teal é uma consultoria de design organizacional. Nós ajudamos outras organizações a adotarem novas formas de trabalho, mais ágeis e adaptativas. Parte da nossa atuação está focada em desenvolver práticas de autogestão nessas empresas. E é isso mesmo: autogestão e não gestão horizontal.

Existe um motivo muito prático por defendermos a autogestão no lugar da gestão horizontal. Acreditamos que abolir cargos de gestão, eliminar a hierarquia ou acabar com os chefes sem colocar algo no lugar é uma mudança muito perigosa.

Empresas que se entitulam como praticantes da gestão horizontal, comumente fazem isso sem colocar qualquer tipo de estrutura de poder no lugar. Elas acreditam que por não falar mais sobre o assunto e acreditar que todos são iguais, tudo estará resolvido.

Mas uma organização sem uma estrutura de autoridade explícita, em geral contém uma estrutura implícita que é muito pior e concentrada. Um artigo famoso, com o título de “A Tirania das Organizações sem estrutura” relata como grupos feministas aparentemente “sem liderança” ou estrutura continuavam com hierarquias de poder implícitas e que fugiam do controle.

Se você simpatiza com a ideia de gestão horizontal, busque uma forma mais estruturada de distribuição de autoridade, como o método Organização Orgânica (O2). Confira também este episódio do Fim da Firma que fala sobre o tema, com a presença do convidado especial Rafael Jagua.

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Sobre o(a) autor(a): Davi Gabriel Zimmer da Silva

Davi é designer organizacional e facilitador na Target Teal, especializado em melhorar interações entre times e indivíduos no ambiente corporativo. É pioneiro na prática de Holacracia no Brasil e co-autor da Organização Orgânica, uma abordagem brasileira para autogestão. Davi é formado em Sistemas de Informação pela UNISINOS e pós-graduado em Psicologia Positiva pela PUCRS. É amante dos temas desenvolvimento humano e de organizações, produtividade, futuro do trabalho e cultura organizacional.

Comentário

  1. […] aos problemas gerados pela hierarquia, algumas empresas têm praticado o que chamamos de gestão horizontal. Definimos o termo da seguinte […]

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