Este é um texto sobre raiva. Uma fúria tremenda e um desespero que entro quando me deparo com ambientes organizacionais autocentrados. Onde a politicagem, a troca de favores e o egocentrismo rolam soltos.

Você deve estar pensando que nós da Target Teal não lidamos com isso. Afinal, somos diferentões, né… Mas não se engane. Por trás da organização mais cool, fofinha e “great place to work”, pode haver um sistema pútrido e canceroso. Um conjunto de crenças que se autorreforçam tanto, que qualquer coisa que não pertença ao status quo torna-se um vírus.

Um CEO-todo-poderoso cuspindo uma estratégia que não faz sentido, mas que ele defende até o fim para não ameaçar a sua posição. Gestores brigando com o RH para decidir a que área o Joãozinho pertence. Pessoas com trabalhos desconexos, mas que são “grudadas” em times que não tem qualquer propósito, a não ser estar debaixo do fulano. Estruturas organizacionais deficitárias, que refletem apenas desejos individuais, mas que quando analisadas sobre uma perspectiva de eficácia, são terríveis.

É curioso que nenhum dos agentes envolvidos (diretores, gestores, funcionários) enxergam a própria falácia lógica. Todos acenam com a cabeça, como se tudo estivesse correto e coerente. É uma doença empresarial instalada e que contamina todos.

Em ambientes organizacionais hierárquicos e tóxicos como os que descrevi acima, falar de motivação intrínseca é quase como falar de honestidade no Governo Federal. É tudo muito bonito, mas está muito distante da nossa realidade. Aqui funciona assim: a ordem desce e quem tem juízo obedece.

Nessa hora sinto raiva das pessoas. Posso falar em papéis, autoridade distribuída, comunicação não-violenta. Mas tudo parece um eco longínquo, ou uma pequena perturbação no sistema, que rapidamente perde força…

Felizmente, logo lembro que ali estão pessoas, também com necessidades universais, que não estão sendo atendidas. Muitas vezes “aquela” é a única estratégia que elas conhecem. Minha raiva passa então das pessoas para o sistema. E nessa hora eu penso.

Eu realmente odeio essa bosta de sistema.

Não podemos também dizer que não se trata de uma escolha (minha) ajudar uma organização como essas. Claro que a constatação da toxicidade só vem depois. A casca é verde, mas o interior é laranja-âmbar.

E apesar de muitas tentativas de mudar o sistema falharem miseravelmente, acredito que a semente verde-azulada foi plantada. Não raro, indivíduos que absorvem a mensagem da Target Teal deixam essas organizações e vão para outras. A semente é levada, e ela normalmente brota em um solo mais propício. Essa é a real expressão do nosso propósito.

Este foi um texto sobre raiva, mas também sobre esperança.

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Sobre o(a) autor(a): Davi Gabriel Zimmer da Silva

Davi é designer organizacional e facilitador na Target Teal, especializado em melhorar interações entre times e indivíduos no ambiente corporativo. É pioneiro na prática de Holacracia no Brasil e co-autor da Organização Orgânica, uma abordagem brasileira para autogestão. Davi é formado em Sistemas de Informação pela UNISINOS e pós-graduado em Psicologia Positiva pela PUCRS. É amante dos temas desenvolvimento humano e de organizações, produtividade, futuro do trabalho e cultura organizacional.

2 Comments

  1. Luiz Jackson Monteiro 4 de dezembro de 2017 às 13:57 - Responder

    É bom ter raiva, pois ela pode ser usada como combustível para mudança. E o que fazer com a raiva, durante a mudança? Aprender, aprender e aprender. Continuar mudando e continuar sentindo raiva. Gosto quando os sentimentos mais primais do homem, escritos em seu código genético, são explorados sem frescuras e melindres (como se fossem proibidos e devessem sempre ser sufocados), pois a planta viçosa nasce em adubo de coisas que estão apodrecendo…

  2. Luisa 6 de abril de 2018 às 18:07 - Responder

    hahahahahaha
    <3 <3

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