Um novo modelo organizacional está emergindo: o chamado “Evolutivo Verde-azulado” (Evolutionary Teal). Três características dessas organizações do futuro, completamente diferente do que conhecemos como “uma empresa”. Entenda quais são elas.

Autogestão

Nas organizações tradicionais, gestão é responsabilidade do gestor, ou do “chefe”. O trabalho de planejar, controlar e coordenar é centralizado nessa figura, enquanto que os outros seguem o que foi definido. As organizações evolutivas apresentam uma ruptura com essa prática: gestão passa a ser responsabilidade de todos. As funções de coordenação e controle do chefe são substituídas por processos com muita transparência, onde os colegas prestam contas uns aos outros, criando um ambiente de “pressão dos pares” (peer presure).

Na Holacracia todos os membros de um círculo participam de uma reunião tática semanal onde compartilham as suas métricas e “checklists”. Todos respondem “sim” ou “não” em relação às atividades recorrentes dos seus papéis. O checklist é definido pelas próprias pessoas do círculo. Este mecanismo garante a execução das atividades importantes, sem a necessidade de um poder centralizado que faz a cobrança. Pessoas que participaram de ambos os modelos (chefe e pressão dos pares) dizem que o segundo costuma ser “mais rígido”. Você pode enganar o seu chefe, mas fica difícil enganar todos os colegas.

Os sistemas de autogestão não fazem uso de hierarquia ou consenso, como nos modelos organizacionais anteriores. A maior parte das decisões são tomadas de forma “autocrática”, onde o indivíduo busca o aconselhamento dos colegas para uma decisão, mas não o “consenso” de todos. Para decisões mais importantes, as organizações evolutivas costumam praticar o consentimento, que busca utilizar a sabedoria do grupo para identificar “objeções” (algum mal que a decisão pode causar) e integrá-las à proposta inicial.

  • Consenso: todos acreditam que esta é a melhor decisão
  • Consentimento: todos consideram a decisão “segura o suficiente para tentar” e “boa o suficiente por agora”

Propósito Evolutivo

As organizações evolutivas não buscam somente o lucro. É algo maior. Segundo Brian Robertson, o propósito pode ser definido como o potencial criativo mais profundo que a organização pode expressar de maneira sustentável no mundo. Ele está presente no dia a dia e direciona a organização através dos objetivos, da estratégia e da tomada de decisão. Ele nunca é deixado de lado.

O propósito é um motivador intrínseco forte que atrai pessoas que “não estão lá só pela grana” e não vão buscar caminhos mais curtos que prejudiquem a organização para subir na hierarquia, ganhar um bônus no final do mês ou satisfazer o chefe. Com base nessa premissa, os processos são radicalmente simplificados (em termos de mecanismos de controle), pois assume-se que todos estão lá para fazer o seu melhor e acreditam na contribuição da organização

As organizações evolutivas são vistas como um organismo vivo com senso de direção próprio. As pessoas estão mais preocupadas em sentir, descobrir e ouvir o propósito do que em criar planos detalhados para tentar prever o futuro.

Sugerimos aqui um método para definir o propósito em uma única sessão.

Integralidade

Você veste uma fantasia profissional ao ir para o trabalho? Se a resposta é sim, você não está trabalhando e uma organização com “integralidade”! Desde a invenção da hierarquia e dos processos, as pessoas deixam de lado os questionamentos, as incertezas, o lado emocional e espiritual ao irem trabalhar. Existe uma separação clara entre o “eu pessoal” e o “eu profissional”. Fomos ensinados a demonstrar determinação e força no trabalho, deixando as dúvidas e incertezas em casa.

Nas organizações evolutivas, todos são convidados a participar de forma íntegra. Não há separação entre as personas profissional e pessoal. O propósito permite a união do que eu quero, do que eu faço e do que eu acredito: eu não vivo para ganhar dinheiro e depois torrar na Disney.

Eu tive a oportunidade de trabalhar em uma organização onde eu podia trazer todo o meu eu. Eu discutia com os meus colegas sobre como eu estava me sentindo, sobre as minhas inseguranças e medos. E eu fazia isso sem medo de ser penalizado. Certa vez eu chorei. Chorei porque estava difícil. Claro que eu fiquei constrangido, mas eu não fui rejeitado. Fui acolhido e encorajado a tentar de novo.

– Um indivíduo sortudo


A autogestão, o propósito evolutivo e a integralidade tornam as organizações “verde-azuladas” um ambiente totalmente diferente do mundo corporativista que conhecemos. Você reconhece esses elementos na sua organização? Nos conte mais sobre eles :)

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Sobre o(a) autor(a): Davi Gabriel Zimmer da Silva

Davi é designer organizacional e facilitador na Target Teal, especializado em melhorar interações entre times e indivíduos no ambiente corporativo. É pioneiro na prática de Holacracia no Brasil e co-autor da Organização Orgânica, uma abordagem brasileira para autogestão. Davi é formado em Sistemas de Informação pela UNISINOS e pós-graduado em Psicologia Positiva pela PUCRS. É amante dos temas desenvolvimento humano e de organizações, produtividade, futuro do trabalho e cultura organizacional.

4 Comments

  1. […] práticas das organizações evolutivas (verde-azuladas) que são usadas para estabelecer a autogestão, o propósito evolucionário e a integralidade. Entre essas práticas está o processo de aconselhamento utilizado pela Morning Star, que […]

  2. […] Os 3 Grandes Avanços das Organizações Evolutivas (Teal) […]

  3. […] quem leu o livro reinventando as organizações do Frederic Laloux e saiu inspirado pela tríade Autogestão, Integralidade e Propósito. Cada um destes conceitos sedutores oferecem armadilhas e abrem espaço para outras intenções […]

  4. […] e piramidal convencional funciona, quando se olham para alguns critérios. Porém, quando olho para nosso contexto, do século 21, acredito que a autogestão funcione melhor. Ela conversa muito mais com nosso contexto volátil, […]

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